quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Swing Luso - Opinião portuguesa com certeza!!

Lisboa, Portugal 13/02/2011 07:39 (LUSA)
Temas: Estilo de Vida e Lazer, Sociedade

*** Sandra Moutinho, da agência Lusa (Portugal)***

Lisboa, 13 fev (Lusa) – Leonor e Francisco têm um segredo que os “uniu ainda mais”: trocam de casal em festas organizadas pela comunidade swinger, nas quais se faz (muito) sexo, mas também “grandes amizades”.

Ela tem 24 anos e ele 28. A viverem juntos há dois anos, chegaram a esta prática “por curiosidade”. Começaram por ir ver as festas, onde encontraram “gente bem disposta a divertir-se” e “sem tabus”.

Os locais são secretos e só os membros da comunidade os conhecem. Em Lisboa, Porto e Coimbra há meia dúzia de discotecas que só funcionam para a comunidade swinger e apenas abrem as portas para estes encontros, normalmente temáticos.

Estas festas, garantem, têm em comum com todas as outras da noite portuguesa a música, o bar, as luzes. Mas distinguem-se pela existência de um privado onde se pode trocar de parceiro sexual.

A troca não é, contudo, fácil. Todos – os quatro – têm de estar de acordo. Se o homem vê uma mulher que lhe agrada, mas não à sua parceira, nada feito. E é este acordo implícito que, diz quem pratica, garante a “fidelidade” aos princípios do swing.

Se o espaço é semelhante ao das outras discotecas, as pessoas são substancialmente diferentes: “Elas vão mais despidas, os homens com roupas mais explícitas”, disse Francisco.

Muito corpo e roupa interior provocante à vista e uma atitude descontraída e “muito sensual” marcam a diferença. Postura que obriga a um cuidado permanente com o corpo e não permite desleixos.

Como explica Leonor, as mulheres normalmente cuidam-se para o verão: “Nós estamos sempre bem tratadas”.

Os homens também têm atitudes proibidas: “É normal ao fim de uns anos de casados, os homens ganharem barriga e desleixarem-se. Aqui não há espaço para isso”.

Francisco enumera ainda outra diferença: “Nas outras festas [não swing] está toda a gente com vontade de partir a louça, mas não o faz. Nós fazemos o que queremos, porque o queremos”.

Os mais novos fazem mais o que querem e com quem querem, pois têm mais opção. “Uma pessoa com 50 anos não tem tanta escolha”, adiantou.

E são cada vez mais novos os swingers portugueses: a maior parte dos 3.000 casais registados no site que se apresenta como “o mais ativo e em mais rápido crescimento da Península Ibérica” tem entre 22 e 35 anos.

A internet é, aliás, a principal porta de acesso a este mundo e é através dela que, segundo um dos administradores do site, os casais são “certificados”.

O objetivo desta “certificação” é garantir, nomeadamente, que os casais são quem dizem que são, o que “é possível, graças ao recurso a webcams e outros instrumentos”.

Tudo isto para garantir a “privacidade” por que anseiam os swingers portugueses, que se destacam dos de outras nacionalidades pela discrição.

“Portugal é o país mais interessante para o swing”, disse o administrador, que solicitou anonimato.

Este responsável sublinha que os swingers portugueses buscam o bom das festas, mas essencialmente o equilíbrio numa vida stressante.

“Estamos enfiados um dia inteiro no escritório, com grandes responsabilidades, mas durante o tempo que estamos nas festas de swing não pensamos em mais nada”.

Leonor e Francisco garantem que não é só o sexo o motor que busca estes casais, mas reconhecem que a maioria troca de parceiro nas festas e é sobre esse tema que comunica na internet: “Fazem-se grandes amigos”.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Está na hora de refletir sobre a exclusividade - Entrevista

Confira uma entrevista completa com com Regina Navarro Lins, publicada no Jornal A NOTÍCIA de Joinville

A seguir, você confere entrevista com Regina Navarro Lins, que explica por que - aos seus olhos - uma mudança na mentalidade está em curso.

As enquetes e muitos dos depoimentos apresentados em A Cama na Rede questionam a crença nos ideais do amor romântico, como a exclusividade sexual, e a aposta no casamento como a melhor forma de viver o amor. Qual o impacto desses questionamentos neste início de século?
Regina Navarro Lins - Estamos no meio de um processo de profunda transformação na forma de se pensar e viver as relações amorosas e sexuais, que se iniciou nas décadas de 1960/1970, com o advento da pílula anticoncepcional e os movimentos de contracultura. Em 2000, quando o site entrou no ar, as pessoas já eram bem mais livres do que nas décadas anteriores. Mas hoje muita gente ainda sofre com suas fantasias, desejos, culpas e medos. Em meu trabalho, tento contribuir para a mudança das mentalidades para que as pessoas possam viver com mais prazer. Penso ser fundamental a reflexão a respeito dos valores que nos foram passados desde a infância, mas que geram frustrações. Fiz a pesquisa desejando saber como homens e mulheres vivem o amor; compartilhar esse resultado com o público é mais uma tentativa de diminuir o moralismo e os preconceitos. Tenho recebido inúmeras mensagens de pessoas dizendo que estão se sentindo aliviadas por ver que não estão sozinhas.

Que respostas e opiniões dos internautas reafirmaram suas teses?
Regina - Principalmente a questão sobre fidelidade, na qual 72% disseram que já foram infiéis e explicaram suas razões. Apesar de todos os ensinamentos que recebemos desde que nascemos - família, escola, amigos, religião - nos estimularem a investir nossa energia sexual em uma única pessoa, a prática é bem diferente. Uma porcentagem significativa de homens e mulheres casados compartilha seu tempo e seu prazer com outros parceiros. Penso que está mais do que na hora de se refletir sobre a questão da exclusividade. Em vez de nos preocuparmos se nosso parceiro (a) transou com outra pessoa, deveríamos apenas responder a duas perguntas: "Me sinto amado (a)? Me sinto desejado (a)?". Se a resposta for positiva, ótimo. O que o outro faz quando não está comigo não é da minha conta. Não tenho dúvida de que assim se viveria muito melhor. Outro resultado que reafirma o que já disse em livros e artigos foi o da pergunta "Com o tempo o tesão pelo parceiro (a) diminui?". Aqui também 72% responderam "sim". Penso que o casamento é onde menos se faz sexo. Não é necessário dizer que existem exceções, mas não podemos tomar a minoria como padrão. Geralmente, num casamento busca-se muito mais segurança que prazer. Mas acredito que o fator principal para a falta de tesão é a exigência de
fidelidade. A certeza de posse e exclusividade leva ao desinteresse, por eliminar a sedução.

Na pergunta sobre se é possível ser feliz sem um parceiro amoroso: 75% disseram que sim. Isso vai ao encontro da tendência que você anunciou na edição ampliada de A Cama na Varanda. Ainda assim, você diz ter se surpreendido. Por quê?
Regina - A cultura ocidental faz com que a maioria acredite que só é possível viver bem se houver uma relação fixa, estável e duradoura com alguém. Por isso, sempre houve tanta gente buscando desesperadamente um par amoroso. O que me surpreendeu nessa questão foi constatar o declínio da
ideia tão difundida "preciso ter alguém que me complete". Imaginei que teríamos que esperar pelo menos uma década para ver esse resultado. Mas é importante assinalar que muitas vezes um resultado mostra o que as pessoas acreditam, como gostariam de viver, mas nem sempre conseguem. Recebo mensagens do tipo: "Concordo com tudo o que você diz. Mas ainda não consigo pôr em prática". Mas me parece ser uma questão de tempo.

Que outros resultados lhe surpreenderam na pesquisa e por quê?
Regina - Imaginei que, na pergunta "Você gostaria de fazer sexo a três?", muitos responderiam "sim", afinal, nos últimos anos, mais casais passaram a frequentar casas de swing, e eu havia recebido diversas mensagens confirmando esse desejo. Mas nunca pensei que o percentual chegasse a 77%. O anonimato facilita dizer o que se deseja e não se tem coragem de revelar aos outros. Quanto à bissexualidade (que 48% disseram ser o sexo do futuro), não fiquei surpresa. Ao longo da história, sempre foi bem definido o que é feminino e masculino. Homens devem ser fortes, corajosos, agressivos, mulheres devem ser dóceis, emotivas e delicadas. Há uma tendência agora a se desejar ser o todo, a integrar os aspectos considerados masculinos e femininos da personalidade. Daqui a algum tempo, é possível que a escolha do objeto de amor não seja feita segundo o sexo, mas segundo as afinidades.

Na enquete, 86% das pessoas dizem fazer sexo bem, mas 96% admitem que umas sabem melhor do que outras. As pessoas tendem a superestimar seu desempenho?
Regina - Penso que sim. Parece tratar-se de casos de propaganda enganosa...(risos). É uma questão de honra, para homens e mulheres, ser bom de cama. Mas essa preocupação só surgiu de uns tempos para cá, quando a satisfação sexual começou a ser valorizada como aspecto fundamental das relações estáveis. Contudo, ainda é grande a quantidade de homens que vão para o ato sexual ansiosos em cumprir uma missão: provar que são machos. A preocupação em não perder a ereção é tanta que fazem um sexo apressado, com o único objetivo de ejacular. A mulher, com toda a educação repressora que teve, ainda se sente inibida em sugerir o que lhe dá mais prazer. Acaba se adaptando ao estilo imposto pelo homem. Fazer sexo mal é isso: não se entregar às sensações e fazer tudo sempre igual, sem levar em conta o momento, a pessoa com quem se está e o que se sente.

O que faz alguém ser bom de cama?
Regina - Penso que ser bom de cama é não ter vergonha, não reprimir os desejos, é perceber o outro e prolongar o ato sem pressa de chegar ao orgasmo. As pessoas que gostam de verdade de sexo e o sabem fazer bem não têm preconceito. A busca do prazer é livre e não está condicionada a qualquer tipo de afirmação pessoal. Então, o sexo é desfrutado desde o primeiro contato, e se cria o tempo todo junto com o parceiro, até muito depois do orgasmo. Nem é necessário haver amor. O ponto de partida fundamental para uma relação sexual de qualidade é a atração sexual.

Em respostas a diferentes perguntas da enquete é reiterado o desejo de fazer sexo a três. Esse desejo corresponde a uma vontade de viver isso na prática ou pode ter o papel de apimentar o sexo, mas no plano da fantasia?
Regina - Acredito que a maioria tenha vontade de viver na prática, mas tem medo. As fantasias são geralmente associadas à ideia de desvio sexual, gerando sensação de inadequação. Fantasiar o que não é aceito socialmente ameaça pelo temor de que acabe se tornando realidade e prejudique a relação. Para a grande maioria, o dia a dia é regido por regras de comportamento e elas tendem a se enquadrar nos padrões aceitos. Mesmo assim, cada vez mais casais procuram casas de swing onde fazem sexo com outras pessoas ou em grupo. Só que não contam para ninguém.

Na enquete, 80% dizem que o casamento não é o melhor caminho para a vida a dois. Mas o IBGE aponta aumento no número de casamentos ano a ano.
Regina - Há um único lugar onde podemos obter a satisfação imediata de todas as nossas necessidades: o útero da mãe. Aí desconhecemos a fome, a sede e a falta de aconchego. Mas nascemos. Precisamos respirar com nossos próprios pulmões, reclamar da fralda molhada, nos desesperamos com a cólica. Somos tomados por um profundo sentimento de falta, que nos acompanhará por toda a vida. Desde cedo, somos introduzidos num mundo com padrões de comportamento claramente estabelecidos. Inicia-se, assim, nosso processo de socialização. Os desejos espontâneos são gradualmente substituídos pelos que aprendemos a desejar. Nos comportamos de acordo com a expectativa social. A partir daí, todos se tornam parecidos. O condicionamento cultural impõe como única forma de atenuar o desamparo uma relação amorosa estável: o casamento. Apesar de 80% responderem que esse não é o melhor caminho para a vida a dois, na prática ainda é difícil romper com o padrão. Mas refletir sobre isso, como os internautas fizeram, é sinal de que uma mudança de comportamento está a caminho.

Você diz que as expectativas deveriam ser reformuladas acerca do casamento. Mas essas expectativas e o próprio casamento já não estão passando por transformações, com mais igualdade de gênero e o número crescente de separações e recasamentos?
Regina - O que digo é que um casamento pode ser ótimo, mas, para isso, é necessário reformular as expectativas alimentadas a respeito da vida a dois, como a ideia de que o amado é a única fonte de interesse; que cada um terá todas as suas necessidades atendidas pelo outro. Mas o principal a ser reformulado é a ideia equivocada de que quem ama não sente desejo de fazer sexo com mais ninguém. Essa crença gera sofrimento desnecessário, porque, quando se descobre uma relação extraconjugal, a pessoa imagina que não é amada. É difícil entender como alguém pode achar que é simples passar 20 anos fazendo sexo com uma só pessoa.

Na reflexão sobre sexo e relacionamentos, quem são seus seus interlocutores?
Regina - No Brasil, só conheci duas pessoas realmente libertárias atuando nessa área: José Ângelo Gaiarsa e Roberto Freire. Infelizmente, os dois já faleceram. Não tenho interlocutores, o que lamento.

Há pesquisadores que veem suas posições com reserva, como afirmar o fim da exclusividade sexual como tendência futura.
Regina - A maioria das pessoas que trabalha nessa área é bastante conservadora. Há terapeutas que tentam enquadrar seus pacientes nos modelos aceitos socialmente, e, pior, fazem isso sem perceber. Pesquisando o que estudiosos do tema pensam sobre as motivações que levam a uma relação extraconjugal na nossa cultura, por exemplo, fiquei bastante surpresa. As mais diversas justificativas apontam sempre para problemas emocionais ou infelicidade na vida a dois. Não li em nenhum lugar o que me parece mais óbvio: embora haja insatisfação na maioria dos casamentos, as relações extraconjugais ocorrem principalmente porque as pessoas gostam de variar. Um casamento pode ser plenamente satisfatório do ponto de vista afetivo e sexual e mesmo assim as pessoas terem relações extraconjugais.

Para outros especialistas, buscar a não exclusividade sexual é não bancar sua escolha, sinal de falta de comprometimento ou mesmo da crença de que todas as faltas podem ser supridas, desde que com mais de um parceiro.
Regina - Há clichês que são repetidos exaustivamente para que tudo siga do mesmo jeito, ou seja, as pessoas sigam sofrendo. Nunca tive dúvida de que quando alguém sai do senso comum é atacado. Roberto Freire e Gaiarsa, por exemplo, foram muito atacados. Eu também recebo e-mails furiosos. Mas
a imensa maioria gosta muito do que escrevo e me envia e-mails de agradecimento. Isso me dá ânimo de continuar contribuindo para a mudança das mentalidades. Meu objetivo é que as pessoas vivam com mais prazer.

Quando e como você começou a questionar as convenções vigentes?
Regina - Acho que já nasci assim... (risos) Aos oito anos, resolvi fazer a primeira comunhão. Em 10 minutos de aula de catecismo, achei tão absurdo o que a professora dizia, que fui embora. Quando tinha 14 anos, meu pai morreu num desastre de avião. A partir dali, fui educada só pela minha mãe, que era extremamente moralista e preocupada com "o que os outros vão pensar". Minha sorte é que nunca acreditei nos valores dela.

Das ideias que defende, o que você já viveu na prática?
Regina - Estou no meu terceiro casamento há dez anos, com o Flávio Braga, que é escritor também, mas de ficção. Acho que a única ideia que defendo é não haver pacto de exclusividade nos relacionamentos amorosos, e é óbvio que vivo isso na prática. O resto são tendências que aponto.

O que você deseja para vida sexual de seus filhos e sua neta?
Regina - Tenho uma filha de 35 anos, do primeiro casamento; um filho de 25, do segundo. E uma neta de 15. Desejo a eles coragem para não se submeter à moral imposta, e que vivam o mais possível em sintonia com seus desejos. Winnicott, um psicanalista inglês, dizia algo muito bom: o ser humano saudável é aquele que consegue ser espontâneo e ao mesmo tempo um ser social. É isso que desejo a todos.

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